Rumba

O sofrimento revelava-se-lhe, no rosto de Fidélio pressentia-se um coração partido e no corpo algo quebrado pesava uma grande paixão não correspondida.
Riu-se da associação de palavras que voavam sobre a sua cabeça como as grandes flores amarelas que levemente caiam das árvores meio despidas e cobriam o chão.
Rhum, Rumba e Cuba, embora o rhum fosse mais forte, ele ainda teimava pensar em rumbas e rimas inofensivas ,até para o estado Cubano se presumiam inocentes estes termos.
Abria caminho entre folhas e flores até um instável cais de madeira podre, tão apodrecido como os governantes de Cuba, pensou ele, cambaleante.
De Madrugada no Outono de Havana , o mar das Caraíbas apesar de onírico e quase plano aquela hora da manhã, não lhe transmitia a tranquilidade que parecia desejar .Apesar de jovem, secretamente alimentava-se de paixões impossíveis e escrevia poemas secretos.
Ao vai e vem lento das ondas calientes do mar tropical, responde o corpo de Fidélio, numa vontade louca de naufragar ou de deixar fluir os sentidos e os desequilíbrios cadenciados, imitando o refluir das vagas tranquilas.
Desde que deixara Dolores no”Che “ Cientro Cultural de Dança ” na noite anterior, o tempo apenas aumentou a dor da rejeição, um sofrimento tão profundo como ainda não tinha sentido.
Ensaiavam , entre outras danças, a Rumba, desde crianças, mas só agora na adolescência ,sentiu aquele quimérico prazer de tocar ,com a ponta dos dedos a face de Dolores ao dançar, de acariciar, de a sentir respirar encostada ao peito, afastar-se (um e… dois) encostar de novo (três e…4) o corpo, mansamente contra o seu ,num arrebatamento voluptuoso e lento.
O pai de Dolores, homem importante na “nomenklatura” do partido acumulava, entre muitos, os cargos de presidente do “Che -Cientro Cultural de Dança” e Comissiones Obreras de Cuba , Fidélio escrevia para um jornal clandestino.
Tinha resolvido beijar longamente Dolores e fê-lo; …as consequências foram devastadoras, ela, com um movimento lento mas forte e enérgico derruba-o , num pavimento demasiado encerado, indo parar junto ao pai, que acabava de entrar no salão de baile.
Todas as atenções e todos os dedos espetados o pareciam apontar, até que este, num prodigioso salto foge e afoga-se devagar no rum por todos os bares e dancetarias de Havana.
O tempo abrandou a marcha na cidade quente de piratas e Al Capones , os bares musicais mantiveram-se abertos até tarde e a “ salsa ” ouve-se ,redonda ,ao longe, imitando o motor de velho carro americano e aumenta a mágoa que aperta o coração de Fidélio.
Aproximou-se decidido da amurada em madeira quebrada e seria este o epílogo, não viesse em seu auxílio uma mão delicada, num movimento leve e o salva de morte certa, era Dolores que mais uma vez suavemente encosta o corpo ao de Fidelio para mais uma rumba no “Che -Cientro Cultural de Dança”

J.Santos

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